quinta-feira, 10 de maio de 2012

A morte de um homem bom



A morte de um homem bom
                            (Lucas Borges Carmo de Oliveira)


A morte é mais longa que a vida. Começamos a morrer assim que nascemos, enquanto vivemos, e continuamos a morrer nas lembranças dos vivos.

Quão ingrata é a morte?
E porque haveria de ter gratidão?

Observo o véu negro cobrir este homem. Seus ombros sucumbem ao sentir-se enleado pelo negro véu. Sua visão cerra-se gradativamente e então, seus passos cansados param sem saber para onde estão indo. Ora, nada é mais claro que isso... Estão indo para o esquecimento.

Esquecimento... Será este o mais próximo conceito de morte? Fato é que muitos que fisicamente morreram deixaram ensinamentos para toda a humanidade. E da mesma forma, esquecemos de pessoas que já fizeram parte de nossas vidas e, carnalmente falando, continuam vivas. Podemos dizer então que quando esquecemos alguém, quando matamos suas lembranças de nossas vidas, essa pessoa deixa de existir?

Quiçá sejam todas estas questões pertencentes ao campo da Filosofia, dos pensadores? Ou pertençam aos físicos e seus tantos referenciais?

Observo o homem definhar. Seus membros apodrecerem. Sua boca ficar muda. Seu olhar perder o brilho. De forma súbita, dou-me conta. Tantas questões não pertencem aos pensadores e físicos. Pertencem ao coração.

Enganam-se aqueles que pensam que seu coração é responsável por bater para manter sua própria vida. Na verdade, morremos na proporção que os corações que batiam por nós deixam de fazê-lo.
Sob sua veste negra, o homem incompreensívelmente resiste. O homem sabe que se não resistir, irá morrer e seu coração irá parar de bater por outra pessoa que também definhará. Resiste pois sabe que estamos todos de certa forma interligados.

É necessário então que, ao entrarmos nas vidas de outrem, façamos com que seus corações batam por nós, que cultivemos boas lembranças.
Talvez a receita da vida se resuma à isso. A morte de um homem bom.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Retrato


               


          Retrato

Esse mundo que a gente deu vida
Que faz, das nossas vidas, pouco caso
Mata seu sonho e deixa aberta a ferida
Alimenta seu espírito com soberba e atraso

Cega seus olhos para que não veja escolha
Tapa os seus ouvidos para que não escute
Amordaça a boca para que a voz morra
Faz com que viva em estado de mute

E não lute
Rodeiam nossas verdades como abutres
E assim tu definhas por aquilo que nutres
                                                                                              - Lucas Borges C. Oliveira