A morte de um
homem bom
(Lucas Borges Carmo de Oliveira)
A morte é mais longa que a vida.
Começamos a morrer assim que nascemos, enquanto vivemos, e continuamos a morrer
nas lembranças dos vivos.
Quão ingrata é a morte?
E porque haveria de ter gratidão?
Observo o véu negro cobrir este
homem. Seus ombros sucumbem ao sentir-se enleado pelo negro véu. Sua visão
cerra-se gradativamente e então, seus passos cansados param sem saber para onde
estão indo. Ora, nada é mais claro que isso... Estão indo para o esquecimento.
Esquecimento... Será este o mais
próximo conceito de morte? Fato é que muitos que fisicamente morreram deixaram
ensinamentos para toda a humanidade. E da mesma forma, esquecemos de pessoas
que já fizeram parte de nossas vidas e, carnalmente falando, continuam vivas.
Podemos dizer então que quando esquecemos alguém, quando matamos suas
lembranças de nossas vidas, essa pessoa deixa de existir?
Quiçá sejam todas estas questões pertencentes
ao campo da Filosofia, dos pensadores? Ou pertençam aos físicos e seus tantos
referenciais?
Observo o homem definhar. Seus
membros apodrecerem. Sua boca ficar muda. Seu olhar perder o brilho. De forma
súbita, dou-me conta. Tantas questões não pertencem aos pensadores e físicos.
Pertencem ao coração.
Enganam-se aqueles que pensam que
seu coração é responsável por bater para manter sua própria vida. Na verdade,
morremos na proporção que os corações que batiam por nós deixam de fazê-lo.
Sob sua veste negra, o homem
incompreensívelmente resiste. O homem sabe que se não resistir, irá morrer e
seu coração irá parar de bater por outra pessoa que também definhará. Resiste
pois sabe que estamos todos de certa forma interligados.
É necessário então que, ao
entrarmos nas vidas de outrem, façamos com que seus corações batam por nós, que
cultivemos boas lembranças.
Talvez a receita da vida se
resuma à isso. A morte de um homem bom.
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